www.librevista.com
nº 63, abril 2025
Edición bilingüe en portugués y castellano
x Lie Caseiro, @casaflordelie[1]
Imagen de Flavia Mauro, @flaviamauro77
Manter os pés na terra é perceber os fatos que se apresentam na realidade, os antagonismos, os jogos de poder, as lutas entre grupos que buscam adequar seus próprios interesses às circunstâncias. Na contemporaneidade o cenário é de um mundo fragmentado e mal construído, onde as desigualdades se manifestam em diversas esferas, sustentando a relação entre dominados e dominadores dentro de uma estrutura hierárquica de poder. Assim, os dominados estarão sempre em desvantagem diante do domínio imperialista, seja ele de direita ou de esquerda.
A esquerda, com frequência, demonstra dificuldades em compreender a realidade contemporânea. Seu discurso carrega um misto de idealismo ultrapassado, um orgulho por lutas históricas sangrentas e um ressentimento abatido que parece não ter fim. No contexto global, crises como as guerras na Ucrânia, em Gaza e na África escancaram a falência dos modelos tradicionais de enfrentamento. A lógica dos blocos de poder, das sanções econômicas e das disputas territoriais só perpetua a violência e o sofrimento. A esquerda, se quiser oferecer uma alternativa real, precisa se afastar do jogo de forças tradicionais e apresentar uma nova proposta: uma diplomacia baseada na humanidade, e não apenas nos interesses geopolíticos; uma visão de desenvolvimento que respeite a cultura e a autonomia dos povos; um compromisso com soluções que nasçam da sociedade civil e não apenas dos governos.
Não nos ateremos aqui, entretanto, a uma crítica à esquerda, e sim a um esforço para compreendermos a essência do seu desejo e, a partir disso, abrirmos caminhos para uma nova postura que realmente funcione. Seu verdadeiro objetivo/ideal, se analisarmos, podemos perceber que não é a perpetuação de uma luta entre classes, mas a construção de uma vida digna para as populações subjugadas a um poder sem ética, onde o individualismo sufoca o humanismo e o ódio se perpetua pelo abuso e pelo ressentimento.
Se refletirmos sobre a história de forma ampla, veremos que os dominados sempre lutaram dentro de uma moral construída pelos dominadores. A moral vigente é sempre a moral dos que detêm o poder. Ao longo dos séculos, os servos, os escravos, os trabalhadores explorados foram inseridos em estruturas que legitimavam sua submissão. E dentro dessas estruturas, novas formas de dominação surgiram, cada qual com sua própria moral.
Seguindo essa lógica, a defasagem da esquerda em acolher os menos favorecidos dentro dessa rígida estrutura de poder se torna cada vez mais evidente. O ideal e a prática exigem estratégias eficazes, mas isso só será possível a partir de uma nova consciência, uma nova mentalidade que se liberte da influência dos próprios dominadores. O que os servos, escravos e trabalhadores revolucionários realmente desejavam? Liberdade. Mas, ao se revoltarem contra sua condição de submissão, ainda estavam presos a uma moral que, no fim das contas, sustentava o poder dos dominadores.
A verdadeira liberdade, no entanto, não se conquista apenas pelo confronto direto, mas pela construção de uma existência em que a carência e o ressentimento não sejam o motor das relações sociais. Não é por meio da guerra pelo poder estatal que se dissolve um sistema de opressão. A esquerda, ao disputar o poder com as mesmas armas dos seus adversários, acaba por reforçar a lógica que deseja combater. A estratégia precisa mudar. É necessário romper com essa mentalidade e buscar algo mais profundo: um resgate da nossa essência humana, do entendimento de nossas carências e das formas de superá-las por meio de um olhar verdadeiramente humanista.
O dominador impõe sua força e seu poder moral e material para moldar a história conforme seus interesses, relegando os dominados à servidão moral, à ilusão da competição e à lógica da guerra. Mas por que não adotar uma nova estratégia? Por que não utilizar as possibilidades do presente, em um mundo onde a tecnologia avança e a realidade se transforma rapidamente para encontrar novas motivações e abrir caminhos para uma existência menos dolorosa?
A liberdade do ser humano não se encontra na mentalidade consumista do capitalismo, mas na alegria genuína de viver. Essa alegria pode ser comparada ao amor fati de Nietzsche: a aceitação plena da existência. Não se trata de resignação, mas de um reconhecimento profundo do valor da vida em si, independentemente das circunstâncias externas. Seja na favela ou no castelo, a verdadeira potência do ser humano reside na sua capacidade de se inserir na sociedade de forma ativa, de encontrar brechas para transformar sua realidade e de se empoderar a partir do que é, e não do que possui.
A democracia, apesar de seus riscos, seja de ditaduras de direita ou de esquerda, ainda oferece espaço para a voz dos cidadãos. Uma nova mentalidade ética e altruísta pode pavimentar caminhos estreitos, mas sólidos, para que os ideais de igualdade e pertencimento floresçam sem ficarem aprisionados à lógica do poder vigente. Aqui, a leitura do anarquismo de Bakunin se torna relevante: o governo de cada um, pautado na ética, no respeito e na autonomia, sem a necessidade de uma hierarquia constitucional que perpetue opressões. A carência do ser humano, seja ele dominado ou dominador, não será suprida pelo excesso, pelo consumismo desenfreado ou pelo jogo de poder. Essa ilusão gerada por uma moral capitalista, pelo imperialismo dos detentores de poder, criou uma mentalidade tóxica para todos. Uma contaminação na psique humana que vela o verdadeiro sentido da vida.
O Brasil nos oferece exemplos concretos de uma potência transformadora. Machado de Assis, como tantos outros escritores, compositores e artistas, nasceu e viveu na favela. Seu talento e sua essência não foram determinados pela estrutura de dominação vigente. A educação, quando bem direcionada, pode abrir portas para a criatividade e para a libertação do ser. A alegria de existir é um poder muito maior do que a matéria que se acumula.
A revolta pode ser um caminho, mas se ela se limita ao desejo de tomar o lugar do dominador, nada realmente muda. A verdadeira transformação social não acontece pela troca de posições no tabuleiro do poder, mas pela dissolução desse próprio tabuleiro. E se a guerra explodir, não haverá saída.
A estratégia, então, precisa ser outra. A “guerra” mais eficaz contra os dominadores é um recolhimento para dentro de si, uma redescoberta da alegria que nos pertence, independentemente das circunstâncias externas. Somente felizes podemos enxergar o mundo de fora, despertar para a realidade além da moral dominante e agir com criatividade. Esse empoderamento, ancorado na autenticidade do ser, nos permite encontrar caminhos práticos para concretizar os ideais de um mundo mais igualitário, apoiando iniciativas que valorizem cada indivíduo e sua dignidade intrínseca.
Essa é a busca filosófica fundamental: o ser humano utilizando suas ferramentas naturais, a sabedoria, a criatividade e a reflexão profunda, para compreender o propósito de se estar vivo. E essa consciência não pode ser dogmática, da qual correria o risco de uma influência sem aprofundamento legitimado pela razão dialética e pela percepção humana. O encontro do ser consigo, com seu empoderamento, é o primeiro passo para a criação de uma nova realidade.
A tecnologia, hoje, abre novas portas. Jovens em situação de vulnerabilidade encontram, nas redes sociais, espaço para expressar sua autenticidade; e muitos transformam suas vidas, saindo da pobreza e sustentando suas famílias. A inteligência artificial, por sua vez, e as novas ferramentas digitais podem nos libertar de posturas rígidas e nos fornecer conhecimento e possibilidades de atuação. Precisamos, ao meu ver, nos inserir dentro da contemporaneidade e compreender que a direita e a esquerda em suas múltiplas vertentes ideológicas são categorias em transformação e que todas pertencem a um movimento coletivo de forças intensas e tênues, conscientes e aleatórias participando de um mesmo organismo em movimento.
Não se trata de rejeitar a luta política, mas de ressignificá-la. A esquerda precisa se conectar mais profundamente com os valores humanos, formulando ações bem estruturadas que dialoguem com essa realidade atual. A criação de associações e projetos de transformação social pode ser um caminho eficaz.
A exemplo da ONG Doutores da Amazônia, que começou com um pequeno projeto no campo da saúde e hoje impacta milhares de indígenas, incentivando outras iniciativas que têm transformado realidades locais, o que mostra que a verdadeira revolução não está em conflitos e guerras, mas em ações concretas. Assim como o Projeto Fun Art, que se iniciou nas ruas do centro de São Paulo com aulas de pintura para os pichadores e posteriormente conseguiu espaços com o apoio da Funarte SP ( Fundação Nacional de Arte). O Projeto ofereceu aos jovens aulas de dança, pintura, filosofia etc., com oportunidades de se tornarem artistas/grafiteiros; a transformação se realiza quando existe vontade, empoderamento e criatividade na conquista dos nossos ideais
No Brasil, temos o SUS, um sistema de saúde que, apesar de suas falhas, oferece atendimento gratuito à população. Em vez de sonharmos com hospitais privados inacessíveis, a luta real é pela melhoria do SUS. Esse é o verdadeiro espírito da esquerda: aprimorar, transformar, oferecer dignidade sem cair na lógica do consumo e do poder pelo poder.
Acredito que o futuro da esquerda dependa de novas estratégias, de um pensamento crítico humanista e inovador, que seja capaz de superar a dicotomia entre dominantes e dominados por meio de uma nova mentalidade, não mais submetida aos valores que regem o poder dominante. E aqui cabe ressaltar o poder da mulher, cuja mentalidade é associada historicamente à empatia, ao cuidado e à valorização dos vínculos humanos, podendo trazer uma contribuição fundamental. Não se trata de uma questão de gênero, mas de uma mudança na forma de pensar: em vez de uma postura agressiva, áspera e guerreira, fundamentada na destruição do inimigo, quem sabe um olhar mais voltado para a reconstrução, para a reconciliação e para a criação de novas possibilidades.
Essa transformação depende de ações concretas que favoreçam o envolvimento direto da população, por meio da participação ativa dos cidadãos em associações independentes, comprometidas com a realidade local, mas abertas ao diálogo com esferas mais amplas.
Tais associações, ao mesmo tempo enraizadas nas necessidades específicas de cada território e conectadas com instâncias de governança, tanto nacionais quanto internacionais, podem criar projetos estabelecendo parcerias estratégicas que potencializem seu alcance e eficácia. Em algumas regiões, isso significa priorizar o acesso à alimentação e aos cuidados básicos; em outras, investir na educação, na cultura ou na reconstrução de vínculos sociais. O importante é que as ações se adequem às circunstâncias locais e sejam conduzidas por essa nova mentalidade, que rompe com a lógica dominante e se orienta pelo compromisso com o bem comum.
Ainda que muitas dessas iniciativas já estejam em curso, é fundamental que a esquerda permaneça como força ativa, consciente de seu papel impulsionador. Cabe a ela não apenas acompanhar esse movimento, mas liderá-lo, garantindo que ele siga adiante, que não se dilua nas contingências de cada momento, com empoderamento e pacifismo. A liderança da esquerda, guiada por essa mentalidade renovada, é fundamental para sustentar esse processo em continuidade como força que inspira, fortalece e direciona.
O caminho é o de seguirmos essa nova mentalidade, que oferece alternativas reais para o mundo em constante transformação, e que encontrará, acredito, sua plena potência quando acompanhada por um movimento político de empoderamento pacífico e consciente permanentemente comprometido com as transformações sociais que nascem da base.║
Palavras referentes / Palabras clave:
Lie Caseiro
Esquerda
Democracia
Nietzsche
Izquierda
Democracia
(sigue la traducción al castellano)
x Lie Caseiro, @casaflordelie[2]
Mantener los pies en la tierra significa percibir los hechos que se presentan en la realidad, los antagonismos, los juegos de poder, las luchas entre grupos que buscan adaptar sus propios intereses a las circunstancias. En la época contemporánea, el escenario es el de un mundo fragmentado y mal construido, donde las desigualdades se manifiestan en diversas esferas, sosteniendo la relación entre dominados y dominadores dentro de una estructura jerárquica de poder. Así, los dominados siempre estarán en desventaja frente a la dominación imperialista, ya sea de derecha o de izquierda.
La izquierda a menudo demuestra dificultades para comprender la realidad contemporánea. Su discurso es una mezcla de idealismo anticuado, orgullo por luchas históricas sangrientas y un resentimiento latente que parece no tener fin. En el contexto global, crisis como las guerras en Ucrania, Gaza y África revelan el fracaso de los modelos tradicionales de confrontación. La lógica de los bloques de poder, las sanciones económicas y las disputas territoriales sólo perpetúan la violencia y el sufrimiento. La izquierda, si quiere ofrecer una alternativa real, necesita alejarse del tradicional juego de poder y presentar una nueva propuesta: una diplomacia basada en la humanidad, y no sólo en intereses geopolíticos; una visión del desarrollo que respete la cultura y la autonomía de los pueblos; un compromiso con soluciones que provengan de la sociedad civil y no sólo de los gobiernos.
Pero no nos limitaremos aquí a una crítica de la izquierda, sino a un esfuerzo por comprender la esencia de su deseo y, desde allí, abrir caminos hacia una nueva postura que realmente funcione. Su verdadero objetivo/ideal, si lo analizamos, podemos ver que no es la perpetuación de una lucha de clases, sino la construcción de una vida digna para poblaciones subyugadas a un poder antiético, donde el individualismo sofoca al humanismo y el odio se perpetúa mediante el abuso y el resentimiento.
Si reflexionamos sobre la historia en sentido amplio, veremos que los dominados siempre han luchado dentro de una moral construida por los dominadores. La moral que prevalece es siempre la moral de quienes detentan el poder. A lo largo de los siglos, los siervos, esclavos y trabajadores explotados fueron insertados en estructuras que legitimaron su sumisión. Y dentro de estas estructuras surgieron nuevas formas de dominación, cada una con su propia moral.
Siguiendo esta lógica, se hace cada vez más evidente el fracaso de la izquierda a la hora de dar la bienvenida a los menos favorecidos dentro de esta rígida estructura de poder. El ideal y la práctica requieren estrategias efectivas, pero esto sólo será posible a través de una nueva conciencia, una nueva mentalidad que se libere de la influencia de quienes dominan. ¿Qué querían realmente los siervos, esclavos y obreros revolucionarios? Libertad. Pero, cuando se rebelaron contra su condición de sumisión, quedaron todavía atrapados en una moral que, al final, apoyó el poder de los dominadores.
Pero la verdadera libertad no se alcanza sólo mediante la confrontación directa, sino mediante la construcción de una existencia en la que la carencia y el resentimiento no sean el motor de las relaciones sociales. No es mediante la guerra por el poder estatal que se disuelve un sistema de opresión. La izquierda, al luchar por el poder con las mismas armas que sus adversarios, termina reforzando la lógica que quiere combatir. La estrategia necesita cambiar. Es necesario romper con esta mentalidad y buscar algo más profundo: un rescate de nuestra esencia humana, una comprensión de nuestras deficiencias y las formas de superarlas a través de una perspectiva verdaderamente humanista.
El dominador impone su fuerza y su poder moral y material para moldear la historia según sus intereses, relegando a los dominados a la servidumbre moral, a la ilusión de la competencia y a la lógica de la guerra. ¿Pero por qué no adoptar una nueva estrategia? ¿Por qué no aprovechar las posibilidades del presente, en un mundo donde la tecnología avanza y la realidad cambia rápidamente, para encontrar nuevas motivaciones y abrir caminos hacia una existencia menos dolorosa?
La libertad humana no se encuentra en la mentalidad consumista del capitalismo, sino en la genuina alegría de vivir. Esta alegría puede compararse con el amor fati (amor por las cosas, ed.) de Nietzsche: la plena aceptación de la existencia. No se trata de resignación, sino de un profundo reconocimiento del valor de la vida misma, independientemente de las circunstancias externas. Ya sea en la favela o en el castillo, el verdadero poder del ser humano reside en su capacidad de insertarse activamente en la sociedad, de encontrar oportunidades para transformar su realidad y de empoderarse a partir de lo que es, no de lo que tiene.
La democracia, a pesar de sus riesgos, ya sea por dictaduras de derecha o de izquierda, todavía ofrece espacios para que los ciudadanos expresen su voz. Una nueva mentalidad ética y altruista puede abrir caminos estrechos pero sólidos para que los ideales de igualdad y pertenencia florezcan sin quedar atrapados por la lógica del poder actual. Aquí cobra relevancia la lectura que hace Bakunin del anarquismo: el gobierno de cada individuo, basado en la ética, el respeto y la autonomía, sin necesidad de una jerarquía constitucional que perpetúe la opresión. Las necesidades de los seres humanos, ya sean dominados o dominantes, no se satisfacerán con excesos, consumismo desenfrenado ni juegos de poder. Esta ilusión generada por la moral capitalista, por el imperialismo de los que están en el poder, ha creado una mentalidad tóxica para todos. Una contaminación en la psique humana que vela el verdadero significado de la vida.
Brasil nos ofrece ejemplos concretos de un poder transformador. Machado de Assis, como tantos otros escritores, compositores y artistas, nació y vivió en la favela. Su talento y esencia no fueron determinados por la actual estructura de dominación. La educación, cuando está bien dirigida, puede abrir puertas a la creatividad y a la liberación del ser. La alegría de existir es un poder mucho mayor que la materia que se acumula.
La rebelión puede ser un camino, pero si se limita al deseo de tomar el lugar del dominador, nada cambia realmente. La verdadera transformación social no ocurre cambiando posiciones en el tablero de poder, sino disolviendo ese tablero mismo. Y si estalla la guerra, no habrá salida.
La estrategia, entonces, debe ser diferente. La “guerra” más eficaz contra los dominadores es el repliegue sobre uno mismo, el redescubrimiento de la alegría que nos pertenece, independientemente de las circunstancias externas. Sólo cuando somos felices podemos ver el mundo desde fuera, despertar a la realidad más allá de la moral dominante y actuar creativamente. Este empoderamiento, anclado en la autenticidad del ser, nos permite encontrar formas prácticas de realizar los ideales de un mundo más igualitario, apoyando iniciativas que valoren a cada individuo y su dignidad intrínseca.
Ésta es la búsqueda filosófica fundamental: los seres humanos utilizan sus herramientas naturales, su sabiduría, su creatividad y su profunda reflexión para comprender el propósito de estar vivos. Y esta conciencia no puede ser dogmática, lo que correría el riesgo de tener una influencia sin la profundidad legitimada por la razón dialéctica y la percepción humana. El encuentro del ser consigo mismo, con su empoderamiento, es el primer paso hacia la creación de una nueva realidad.
La tecnología hoy abre nuevas puertas. Los jóvenes en situación de vulnerabilidad encuentran en las redes sociales un espacio para expresar su autenticidad; y muchos transforman sus vidas, escapando de la pobreza y apoyando a sus familias. La inteligencia artificial, a su vez, y las nuevas herramientas digitales pueden liberarnos de posturas rígidas y brindarnos conocimiento y posibilidades de acción. En mi opinión, necesitamos insertarnos en la época contemporánea y entender que la derecha y la izquierda, en sus múltiples vertientes ideológicas, son categorías en transformación y que todas pertenecen a un movimiento colectivo de fuerzas intensas y tenues, conscientes y aleatorias que participan en un mismo organismo en movimiento.
No se trata de rechazar la lucha política, sino de redefinirla. La izquierda necesita conectarse más profundamente con los valores humanos, formulando acciones bien estructuradas que se involucren con esta realidad actual. La creación de asociaciones y proyectos de transformación social puede ser un camino efectivo.
Como la ONG Doutores da Amazônia (Doctores de la Amazonia, ed.), que comenzó con un pequeño proyecto en el área de la salud y hoy impacta a miles de indígenas, impulsando otras iniciativas que han transformado realidades locales, lo que demuestra que la verdadera revolución no está en los conflictos y guerras, sino en acciones concretas. Así como el proyecto Arte Fun, que comenzó en las calles del centro de São Paulo con clases de pintura para grafiteros y que después consiguió encontrar espacios con el apoyo de Funarte SP (Fundación Nacional de Arte). El proyecto ofrecía a los jóvenes clases de danza, pintura, filosofía, etc., con oportunidades de convertirse en artistas/graffiteros; La transformación se produce cuando hay voluntad, empoderamiento y creatividad para alcanzar nuestros ideales.
En Brasil, tenemos el SUS, un sistema de salud que, a pesar de sus fallas, ofrece atención gratuita a la población. En lugar de soñar con hospitales privados inaccesibles, la verdadera lucha es mejorar el SUS. Éste es el verdadero espíritu de la izquierda: mejorar, transformar, ofrecer dignidad sin caer en la lógica del consumo y del poder por el poder.
Creo que el futuro de la izquierda depende de nuevas estrategias, de un pensamiento crítico humanista e innovador, que sea capaz de superar la dicotomía entre dominantes y dominados a través de una nueva mentalidad, ya no sujeta a los valores que rigen el poder dominante. Y aquí cabe destacar el poder de las mujeres, cuya mentalidad está históricamente asociada a la empatía, al cuidado y a la valoración de los vínculos humanos, y que pueden hacer un aporte fundamental. No se trata de una cuestión de género, sino de un cambio en la forma de pensar: en lugar de una postura agresiva, dura y bélica, basada en la destrucción del enemigo, quizás una mirada más centrada en la reconstrucción, la reconciliación y la creación de nuevas posibilidades.
Esta transformación depende de acciones concretas que favorezcan la implicación directa de la población, a través de la participación activa de los ciudadanos en asociaciones independientes, comprometidas con la realidad local, pero abiertas al diálogo con esferas más amplias.
Estas asociaciones, a la vez arraigadas en las necesidades específicas de cada territorio y conectadas con órganos de gobernanza, tanto nacionales como internacionales, pueden crear proyectos estableciendo alianzas estratégicas que potencien su alcance y eficacia. En algunas regiones, esto significa priorizar el acceso a los alimentos y a la atención básica; en otros, invertir en educación, cultura o en la reconstrucción de vínculos sociales. Lo importante es que las acciones se adapten a las circunstancias locales y estén guiadas por esta nueva mentalidad, que rompe con la lógica dominante y está guiada por el compromiso con el bien común.
Aunque muchas de estas iniciativas ya están en marcha, es esencial que la izquierda siga siendo una fuerza activa, consciente de su papel impulsor. A ella le corresponde no sólo seguir este movimiento, sino liderarlo, procurando que avance, que no se diluya en las contingencias de cada momento, con empoderamiento y pacifismo. El liderazgo de la izquierda, guiado por esta mentalidad renovada, es fundamental para sostener este proceso en continuidad como fuerza que inspira, fortalece y dirige.
El camino es seguir esta nueva mentalidad, que ofrece alternativas reales para un mundo en constante transformación, y que encontrará, creo, todo su poder cuando vaya acompañada de un movimiento político de empoderamiento pacífico y consciente, comprometido permanentemente con las transformaciones sociales que surgen desde la base. ║
[1]
Lie Caseiro (pseudônimo de Natália da Silva Caseiro) é filósofa e artista visual brasileira. Suas obras tecem um diálogo profundo entre arte e pensamento. Entre suas obras escritas publicadas, destacam-se Fragmentos de Aurora, O Ponto, Fábrica de Emoções, e Cumplicidade entre Platão e Nietzsche. Seu ensaio Luz de meu palco interior, (https://www.librevista.com/Luz-do-meu-palco-interior-x-Lie-Caseiro-Premio-librevista-de-ensayo-2024.html) compartilhou o primeiro prêmio do Concurso de Ensaio Librevista 2024.
Instagram: @casaflordelie,
Facebook: http://facebook.com/liecaseiro
Linkedin: https://www.linkedin.com/in/lie-caseiro-954b0117
[2]
Lie Caseiro (seudónimo de Natália da Silva Caseiro) es una filósofa y artista visual brasileña. Sus obras tejen un diálogo profundo entre arte y pensamiento. Entre sus obras escritas publicadas destacan: Fragmentos de Aurora, El punto, Fábrica de emociones y Complicidad entre Platón y Nietzsche. Su ensayo Luz de mi escenario interior, (https://www.librevista.com/Luz-do-meu-palco-interior-x-Lie-Caseiro-Premio-librevista-de-ensayo-2024.html ) compartió el primer premio del Concurso de Ensayo Librevista 2024.
Instagram: @casaflordelie
Facebook: http://facebook.com/liecaseiro
Linkedin: https://www.linkedin.com/in/lie-caseiro-954b0117
www.librevista.com
nº 63, abril 2025